Mulher recém-parida vive como gato no mato. Anda sorrateira, pisa leve pra não craquelar as folhas caídas. Come só, e só porque tem de comer.
O pêlo troca, o peito fisga, o bico pinga, a barriga vazia.
Vive em pele e osso porque é o corpo seu novo sentido. Talvez também porque seja a sua principal função ajudar a sustentar o corpo-casa daquele pequeno.
Ninguém ousa tocá-la sem sentido.
É só e solitária a vida da mulher recém-parida. Mas ainda assim, nas poucas visitas que faz ao mundo de lá, ela faz com que seu filho reproduza um sorriso de instinto, fingindo ser pura graça a vigília em que vive.
de Clara Vestes, mãe de Joaquim e recém-parida.
poesia publicada em cancoesdegestar.blogspot.com
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